quarta-feira, 25 de junho de 2014

Arvinha e Ecosofia A

I. Porque ecosofia A:
Se toda criança da zona rural tem sua árvore preferida, a Arvinha é a árvore de minha vida. O "A" é de 'Arvinha', mas também de 'amor', e da primeira e da última vogal de 'Capivarinha' e de 'Capelinha'. Arvinha é uma pequena árvore em que eu e meu irmão vivíamos subindo. Havia várias árvores mais imponentes, como dois ou três jequitibás bem ao seu lado (talvez por isso ela tenha recebido o nome de "Arvinha"). Nós preferíamos a Arvinha para brincar, subir em suas grimpas. Eu imaginava ter uma casa sobre seus galhos. Ela me marcou muito, ao ponto de tentar fazer um poema em que ela aparece (não sou poeta). É lá que nosso amigo Osmar chegava para brincar conosco. A Arvinha representa representava para nós lazer, prazer, brincadeira, liberdade. Hoje sabemos que representava uma ligação umbilical com a natureza.
Pois bem, o grande filósofo norueguês Arne Dekke Eide Naess, conhecido simplesmente como Arne Naess (1912-2009), criador da Ecologia Profunda, tem como um dos princípios fundamentais a autorrealização, para todos os seres, não apenas para os homens. Autorrealização é procura do próprio bem-estar, do conforto, enfim, da felicidade. Para mim e meus irmãos, a Arvinha era parte integrante dessa autorrealização. Ela inclui procurar a realização pessoal, viver em harmonia com a natureza, o que praticávamos diariamente, inclusive com a Arvinha. Havia algo como um prazer sensual, quase erótico. Mas, acima de tudo, estar nos galhos mais altos da Arvinha dava a sensação de estar no alto, mas não tão alto que representasse perigo, como nos jequitibás.
A Arvinha ficava em uma posição mais alta do que nossa casa, bem próxima dela, com o que nos sentíamos seguros e não longe das vistas de nossos pais. Com isso, nos sentíamos altaneiros, porém seguros.
Se Arne Naess chamava sua ecosofia (filosofia ecológica) de “ecosofia T”, eu passei a chamar minha filosofia de vida pessoal de “filosofia A”, tomando o “A” de Arvinha. Vejamos algumas características dessa “filosofia”:
 
II. Minhas primeiras premissas: meus princípios de vida
- Valorizo o "quê", não o "como" de tudo (comida, sexo, etc.);
- Valorizo a essência, não a aparência;
- Levo as coisas a sério;
- Valorizo as próprias raízes, a origem rural;
- Não gosto de ficar na expectativa, de esperar por nada nem por ninguém;
- Tenho tolerância e benevolência para com os fracos, não para com os arrogantes e os prepotentes;
- Não gosto de desperdiçar nada;
- Gosto de momentos de solidão (o indivíduo atual tem pavor dela);
- Gosto do silêncio (o indivíduo atual tem horror a ele);
- Gosto de música suave (a maioria dos indivíduos atuais apreciam música em um nível de decibéis que lesiona os tímpanos);
- Tenho horror ao barulho, porém, os barulhos da natureza geralmente não me incomodam (trovões, por exemplo);
- Gosto de tomar banho com água em temperatura ambiente (não quente);
- Não gosto de tomar remédio (muitas dores passam naturalmente sem eles);
- Não me preocupo com a morte: ela faz parte do processo natural da vida;
- Não acendo a luz quando a luz do sol ou da lua é suficiente nem quando não é necessário acendê-la;
- O mínimo me é suficiente; detesto exageros e ostentação;
- Ninguém é muito importante (figurão, autoridade) para mim;
- Valorizo todas as formas de vida, todos os seres; acho que aqueles seres que não valorizam os outros seres (os assassinos, p. ex.) não merecem viver com os demais;
- Não maltrato os animais, as plantas nem a natureza mineral;
- Minha maior diversão é o contato direto com a natureza. Isso traz recompensas imediatas;
- É difícil dizer o que é certo e o que é errado. Para mim, errado é o que causa sofrimento; certo, o que não o causa. De modo mais amplo, errado é o que prejudica a vida, no sentido biológico; certo, o que não a prejudica;
- Considero as "obras de arte da natureza" mais belas do que as produzidas pelos humanos;
- Formalidade versus disciplina: Há uma diferença fundamental entre as duas. O formalista nos põe para servir as regras; o disciplinado põe as regras para nos servir;
- O terrorismo não se justifica em hipótese nenhuma. Muitos movimentos perdem toda a razão que tinham ao lançar mão da violência contra inocentes.
Depois, virá mais coisa sobre a Arvinha e a Ecologia Profunda.

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