quarta-feira, 25 de junho de 2014

Ecologia: Notas esparsas antigas

Quando disse a uma colega que devemos viver em harmonia com a natureza, ela retrucou:
- "ora, dor de cabeça é natureza; tempestade é natureza; terremoto é natureza; cobra é natureza. Enfim, muita coisa ruim é natureza".
Pois bem, aí está o grande engano dos que são contra os ecologistas. Eu, pessoalmente, não me interesso por tudo que eles apregoam, às vezes, festivamente. No entanto, procuro estar em harmonia com a natureza o quanto me permite a agitação da vida atual (hoje, 2014, não tenho mais a mesma opinião).
A referida colega, infelizmente, não entendeu o que eu quis dizer com "estar em harmonia com a natureza". Marx disse nos seus Ensaios econômicos e filosóficos, que "o homem é diretamente um ser natural". Ou seja, ele faz parte da natureza, a qual lhe garante a sobrevivência física. Só a partir daí se pode falar no ser social. Pois bem, se ele é também natureza, "viver em harmonia com a natureza" significa para ele viver em harmonia consigo mesmo.
Nunca passou pela minha cabeça que na natureza só haja "coisas boas", ou seja, alimentos saborosos e nutritivos, sombra e água fresca, conforto etc. Pelo contrário, nela tudo tem seu reverso. Se há alimentos saborosos e nutritivos, há também os venenosos; se há sombra e água fresca, há também calores e frios letais; se ela nos dá certo conforto (bem-estar), isto pode exigir certo incômodo (trabalho). E assim por diante.
Quando disse "viver em harmonia com a natureza", quis me referir, entre outras coisas, ao seguinte:
a) Não depredar a natureza. Por exemplo, para se obter uma pequena área cultivável, atear fogo numa floresta, o que devastaria quilômetros e quilômetros;
b) Não jogar os dejetos químicos nos rios, lagos e mares, como fazem as filiais das indústrias multinacionais nos países subdesenvolvidos (nos países sede elas não o fazem porque há pesadas multas que são efetivamente aplicadas). Não poluir o ambiente vital;
c) Modificar na natureza o estritamente necessário para a vida humana;
d) Não tomar drogas para dormir, defecar, contra dor de cabeça, em suma, não forçar nada naquilo que deve ser uma função natural do organismo humano. Só se deve abrir exceção para casos extremos, patológicos. Isto porque o que normalmente leva alguém a tomar drogas é um sintoma, é o efeito de alguma disfunção. É uma placa de aviso "Perigo!" Tomar a droga como primeira atitude é cortar o efeito, é tirar a placa de perigo, sem eliminar a causa, sem acabar com o perigo existente na estrada;
e) É procurar conhecê-la a fim de canalizar suas forças para o bem do homem. É eliminar apenas os animais perigosos e, mesmo assim, só no momento em que ameaçam a vida de alguém. Ou então só aqueles necessários para a alimentação do homem. A caça é um crime contra a natureza;
f) Não tentar trabalhar além do que permitem as forças físicas e mentais, ou seja, descansar na hora certa. Após um breve repouso o trabalho renderá mais;
g) Evitar alimentos químicos. O Brasil ainda é tão grande, ainda permite cultivar de tudo. Para que alimentos desse tipo?
h) Ver em todo ser humano alguém como você, como o próximo, não como um competidor, um antagonista ou inimigo. Assim você terá mais alegria de viver. E alegria é harmonia com a natureza.

Título original: "Ecologia: Notas Esparsas, 1984"
Hildo Honório do Couto (UnB).



 
 

 
 
 
 






 

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